Sendo a proposta da Exatidão de Calvino composta por vários pontos importantes e que requerem análise também do que pode lhe opor, foram escolhidas para a análise duas obras de funcionalidade, aparência e construção bastante diferentes mas que se associam ao mesmo conceito.
A primeira delas, a ampliação do Museu de Arte de Milwaukee, está localizada às margens do lago estadunidense Michigan e é um projeto do arquiteto e engenheiro espanhol Santiago Calatrava. A obra, que começou em 1995 e foi concluída em 2001, procurou integrar o museu à cidade e ao entorno - inclusive o edifício se manteve com uma parte baixa para não obstruir a vista do lago.
Como ponto principal do projeto, a estrutura criada para controle da luz solar dentro do museu é também o detalhe mais marcante: são tendões de aço móveis que funcionam como brise-soleis e remetem a forma de um pássaro. Além disso, a obra conta com uma passarela de pedestres que a liga à cidade e que é grande marca da presença de Calatrava.
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| Museu de Arte de Milwaukee - WI - Estados Unidos |
Obra de Marcio Kogan, a segunda construção escolhida foi a Casa da Bahia. Localizada em em meio a natureza e sob o calor da capital Salvador, a casa foi totalmente planejada para a localização, clima e ventilação local. A obra, que data 2008, garante o necessário conforto ambiental que os moradores precisam, pois conta com grandes e bem posicionados painéis de madeira móveis para fechar a residência, um pátio central com integração de áreas internas e externas e diversos materiais construtivos para manter a moradia agradável, inclusive múltiplos tipos de madeira reciclada.
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| Casa da Bahia - Salvador/BA |
O primeiro ponto ressaltado seria um “projeto de obra bem definido e calculado” e é claramente ligado a ambas edificações: a Casa da Bahia por ter sido pensada única e exclusivamente para aquele lugar, com aquela temperatura e ventilação, e por Kogan tê-la projetado cuidadosamente sem portas nem janelas aparentes mas de modo que tudo se abre e se fecha de forma conversível, sempre interagindo com o exterior; e o Museu de Milwaukee que, explicitamente, é um grande exemplo desse tópico já que possui paredes curvas com raios diferentes, alturas que variam, assim como as lajes, além do cuidado que Calatrava teve que ter com a ponte e estudos sobre a ensolação ao projetar o brise-soleil. E é o mesmo brise-soleil que representa, nesta construção, o segundo tópico: “a evocação de imagens nítidas, incisivas, memoráveis...”. O desenho da estrutura de controle de luz é o ponto marcante do museu, nela o arquiteto foi capaz de unir a funcionalidade com a aparência transformando o que seria útil à um dos marcos da cidade. Já na residência em Salvador, sua inserção em meio a natureza, a composição decidida e sua fachada em madeira que de dia faz a luz penetrar de forma natural e que a noite faz a luz interior se propagar pelos orifícios, são características que provocam sensações marcantes.
Por fim, “uma linguagem que seja a mais precisa possível... (...) nuanças do pensamento e da imaginação”. Nada descuidados e casuais, os dois projetos traduzem o que o autor quis dizer com seu terceiro e último tópico sobre Exatidão: o Museu de Milwaukee como um todo - o espaço de exibições, a ponte e o brise-soleil - que pode ser interpretado de várias maneiras mas qualquer uma delas consistentemente; e a Casa da Bahia, com seu volume e disposição.
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| Casa da Bahia - Salvador/BA |
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| Museu de Arte de Milwaukee - WI - EUA |
De acordo com Calvino, explicar a Exatidão ou qualquer outra coisa seria mais fácil excluindo o que não seria realmente seu significado. Mas levando em consideração o definível, ora ou outra uma das obras selecionadas se encaixa mais no conceito, sem deixar de ser comparável à proposta quando um ou outro fator não for completamente significante.
As formas geométricas, por exemplo, são mais aparentes na Casa da Bahia por ser composta de vários retângulos que por fim se assemelham a um só bloco, porém na construção americana, o interior - que aliás é mais bem aproveitado do que se deduz - possui formas geométricas no teto e paredes, além de muitas simetrias - outro ponto defendido pelo autor. Assim como a idéia de limite que é encontrada e/ou contrariada pela forma de pássaro e a ligação do museu com o entorno e também na casa baiana que ao mesmo tem possui seu volume sólido mas faz ligação com o exterior.
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| Casa da Bahia - Salvador/BA |
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| Interior do Museu de Arte de Milwaukee - WI - EUA |
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| Interior do Museu de Arte de Milwaukee - WI - EUA |
Enfim, com a atenção, precisão e consistência citadas no texto, ambos exemplos escolhidos comprovaram para mim a melhor ilustração do tema debatido por Calvino no capítulo escolhido.
Referências:
http://archidia.blogspot.com/2010/09/bahia-house.html
SAYEGH, Simone. Brisa Baiana. AU, Ano 25, n. 196, Julho 2010.
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