domingo, 7 de novembro de 2010

Arquitetura Múltipla



Ao longo da história a arquitetura sempre representou valores ou ideais de um povo, por isso, sem dúvida, a relação entre o objeto arquitetônico e o lugar onde ele se insere são aspectos de grande importância para qualquer arquiteto. A obra estabelece um diálogo entre espaço, história e cultura, fazendo com que se ultrapasse a visão de uma simples edificação, mas uma obra com significado.
   A arquitetura contemporânea, mais do que nunca, nos mostra toda essa multiplicidade, através da ousadia de suas linhas e na interação com os indivíduos que usufruem do espaço. Essa multiplicidade é discutida por Ítalo Calvino, em sua obra “Seis propostas para o próximo milênio”. Para o autor, a obra deveria representar um “(...) romance contemporâneo como enciclopédia, como método de conhecimento, e principalmente como rede de conexões entre os fatos, entre as pessoas, entre as coisas do mundo.” (pág.121).
   Tais elementos estão presentes no projeto do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG) em Belo Horizonte, do arquiteto Sílvio de Podestá. Apesar de suas linhas simples, esta obra exemplifica com clareza os conceitos de Calvino. O projeto de 2004 visa à implantação do edifício a um ângulo de 22° em relação ao terreno, que é de esquina. Desta forma, o olhar do observador é naturalmente direcionado à Igreja de Santa Tereza, que fica emoldurada por um pórtico de 21,5 m de altura por 19,0m de largura, que compõe o desenho do edifício.
O recurso utilizado pelo arquiteto dá a paisagem o aspecto de uma tela, mas não uma tela comum, uma tela viva, que se modifica através da ação do homem na paisagem urbana, conferindo a obra “...relações infinitas, passadas e futuras, reais ou possíveis, que para elas convergem...” (CALVINO, 1990, p.121, tradução Ivo Barroso).
Mas o conceito de multiplicidade deste edifício não se resume ao pórtico. Toda a edificação foi pensada para propiciar interação com as pessoas que ali frequentam, através da praça, do restaurante e do auditório, sem comprometer a segurança necessária ao prédio de uso Institucional.
Desta forma, vemos que a arquitetura não se restringe a projetar um espaço meramente funcional, ou escultório, e sim, tornar-se um instrumento capaz de materializar sonhos, necessidades ou valores de um indivíduo ou sociedade.  



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