domingo, 7 de novembro de 2010

Visibilidade - João Gustavo Magalhães

Visibilidade

Dentre as demais conferências que compõem “Seis Propostas Para O Próximo Milênio”, Ítalo Calvino situa a Visibilidade como um valor a ser preservado, que ele vem a definir como:

            “(...) uma faculdade humana fundamental: a capacidade pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de pensar por imagens.”

De tal maneira, Calvino solicita uma “pedagogia da imaginação”, que nos permita controlar a visão interior, sem incorrer num determinismo racionalista (que sufoca a visão interior), mas sem incorrer na irrelevância de um “confuso e passageiro fantasiar”.

O autor alerta para o perigo que “civilização da imagem” representa para a imaginação. Em um mundo em que somos constantemente bombardeados por imagens prontas, muitas vezes sedimentadas pela cultura de massa, incorremos no risco de perdermos a capacidade de fabricarmos nossas próprias imagens. Ficamos dependentes de imagens previamente digeridas, que acabamos por interiorizar e que substituem as imagens que provém de nós mesmos.

Cartier Foundation, Ateliers Jean Nouvel
1991-1994

Localização: Boulevard Raspail, Paris
Programa: Fundação Cartier de Arte Contemporânea, espaços de exposições, escritórios e estacionamentos

Equipe de Arquitetura:
Jean Nouvel, Emmanuel Cattani & Associés
Coordenador de projeto: Didier Brault
- Arquitetos: Pierre André Bohnet, Laurence Ininguez, Philippe Mathieu, Viviane Morteau, Guillaume Potel, Steeve Ray, Arnaud Villard, Stephane Robert

Na sua descrição do projeto, ponto de partida da análise, Jean Nouvel explicita os conceitos que nortearam a produção do objeto. Como é característica de seu trabalho, ele busca trabalhar a questão da imagem e da visibilidade objetiva e imaginária do edifício.
A corpo do edifício é essencialmente uma estrutura de vidro e aço, que se integra com o parque em redor, através de um sistema de divisórias móveis. Composto de uma série de galerias para exposição dos artistas que a Fundação Cartier apadrinha, além de salas de escritórios e estacionamentos, um dos elementos mais notáveis da composição é a parede de vidro opaco, distante alguns metros do corpo principal – e ligada a ele através de estrutura de aço. Entre a parede e a fachada transparente do edifício, Nouvel coloca um jardim, sobre o qual diz:

“Árvores são visíveis por detrás da barreira esmaltad, que tomou o lugar de uma parede longa e opaca, encostando na sua estrutura.”

Esta parede tem a função fundamental ainda, de tornar mais dinamica a leitura do volume.

“A Arquitetura é leve, com uma refinada malha de aço e vidro. Arquitetura em que o jogo consiste em borrar as barreiras tangíveis do edifício e tornar supérflua a leitura de um volume sólido, em meio à poética da distorção e da efervescência. Quando a virtualidade é atacada pela realidade, a arquitetura deve mais do que nunca ter a coragem de assumir a imagem da contradição.”

Nouvel esclarece, então, sua estratégia. A parede opaca traz a tona uma leitura subjetiva do espaço. Através da mesma veem-se as árvores, os visitantes, os funcionários em seus escritórios, mas através de uma visibilidade subjetiva, solicitada a partir do momento em que a imagem se torna tão difusa que a leitura objetiva não funciona, e cabe ao observador a tarefa de “esclarecer”, por meio das suas próprias imagens interiores, o que acontece, o que existe de fato e o que poderia existir.










Fontes:
Ateliers Jean Nouvel


Lacayo, Richard. "Jean Nouvel Gets the Pritzker". Time Magazine, 31 mar. 2008. Disponível em http://lookingaround.blogs.time.com/2008/03/31/jean_nouvel_photo_jean_ayissi/

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